domingo, 3 de outubro de 2010

5 de Outubro em 5 Minutos

Está quase a chegar a grande comemoração política do ano: o centenário da Implantação da República.

Vendo a coisa à distância desapaixonada de um século, e após uma aturada pesquisa com o rigor científico a que habituámos os nossos leitores, o que se passou foi mais ou menos isto:

O povo andava lixado com o rei, que perante a miséria do país derretia a massa toda em luxos, assim do estilo das 400 viaturas de alta cilindrada do Grupo Águas de Portugal. Depois, era a subjugação aos interesses Britânicos no ultramar, por causa de um mapa cor-de-rosa; a humilhação seria menor, se fosse castanho, ou azul, que são cores mais dignas, agora cor de rosa... Havia ainda a ditadura de João Franco (tínhamos um primeiro-ministro que era franco... curioso).


Em Fevereiro de 1908, deu-se o regicídio no Terreiro do Paço. Vinha D. Carlos descansado das suas caçadas em Vila Viçosa e pimba, saltou-lhe em cima o Buíça, uma figura medonha que parecia o Barbas da Costa da Caparica, e que lhe limpou o sarampo em menos de um fósforo.

D. Manuel, o filho sobrevivente que lhe sucedeu, não tinha grande mão no país, com o argumento que "o rei reina, não governa". Mário Soares adoptou o mesmo lema, muitos anos mais tarde, mas com enorme sucesso.

O Partido Republicano foi picando o povo, aproveitando este capital de descontentamento, e em Outubro de 1910 estalou a revolução. O relato desses dias é emocionante.

No dia 3, D. Manuel II jantava com Hermes da Fonseca, presidente do Brasil em visita a Portugal (já na altura, tal como hoje, era forte a presença de brasileiros na restauração). Terminada a cerimónia, já recolhido às Necessidades, jogava bridge quando o palácio sofreu a primeira tentativa de assalto. "Por Deus! Logo agora, que tinha um excelente fit de copas!", terá dito el-rei.

O dia 4 amanhece com o rei barricado no paço real, e com as linhas telefónicas cortadas. Cerca do meio-dia os cruzadores "Adamastor" e "São Rafael", fundeados no Tejo, bombardeiam o palácio. Escondido numa casa do jardim, consegue telefonar ao presidente do conselho. Afinal os revolucionários apenas tinham cortado as linhas de estado, e não as da rede geral (eram espertos, aqueles tipos...). Teixeira de Sousa aconselhou uma real fuga para Mafra.

D. Amélia, a rainha, e D. Maria Pia, a rainha-mãe, pernoitavam nos Palácios da Pena e da Vila, respectivamente (no tempo dos reis havia palácios com fartura). Juntaram-se rapidamente a D. Manuel e zarparam para o exílio.

No dia 5 dá-se um dos episódios mais caricatos da revolução, ou não fosse esta uma história portuguesa. O embaixador alemão, tentando negociar tréguas para permitir a evacuação dos cidadão estrangeiros da cidade, sai do Rossio em direcção à Rotunda, onde tenta parlamentar com as tropas revoltosas aí situadas. Estas, ao verem a bandeirinha branca, julgam tratar-se da rendição do inimigo e saem das barricadas em festa. Perante o mar de gente que invade as ruas, o general das tropas realistas, Gorjão Henriques, meio aparvalhado, já nada pode fazer. Pouco depois, às 9 da manhã, era proclamada a república na célebre cena da varanda da Câmara Municipal.

Em virtude destes acontecimentos, grandes mudanças foram introduzidas no país: deixámos de ter a bandeira monárquica em fundo azul e branco, e passámos a ter uma república de maminhas ao léu.


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