Pendurado na Varanda

Os portugueses adoram expor as suas crenças, paixões clubísticas e patriotismos na praça pública. Um pouco como dizer "Eu sou muito assim", ou "Olhem bem para o que eu gosto", estão a ver?

Vem isto a propósito das inúmeras decorações de Natal que vejo penduradas nas varandas. O Capuchinho, com a colaboração do Instituto de Sociologia Iconográfica de Fernão Ferro, através do seu departamento de Exposição em Varandas, elaborou um estudo com o título "Diz-me o Que Tens na Varanda, Dir-te-ei Quem És".

Apresenta-se um  resumo em imagens da análise efectuada:

Foto nº 1:  a bandeira de Portugal

É um "must" que vem do saudoso Euro 2004. A imagem é, no entanto, um pouco confusa. Estamos a celebrar o país, ou as novas calças à boca de sino? E a boneca-alpinista, o que dizer dela?

Foto nº 2: a bandeira (apenas)

Aqui, não são em definitivo as calças, o objecto em destaque. Dir-se-ia que é o dia em que a empregada vem lavar. Ou então a folga de uma casa de alterne. Cor predominante: o azul, que dá sorte.




Foto nº 3: um Natal vegetariano

A iconografia da época está lá toda, mas percebe-se o pendor naturista - azevinho e pinheiro. Celebra-se claramente um Natal verde, ecológico, respeitando a natureza. No entanto, detectamos um contra-censo: a chama, inimiga da floresta. E a opção eléctrica, que não ajuda nada à causa da sustentabilidade energética.

Foto nº 4: o Pai Natal trepador

É um lugar comum, o Pai Natal subindo pela fachada. Neste caso, não por uma escada, mas sim por uma corda (é a versão Pai Natal rappel). Natal comercial, claramente enquadrado nos valores da sociedade consumista.

Foto nº 5: o menino Jesus em fundo carmesim

É a tradição do nascimento de Jesus, o verdadeiro espírito do Natal, divulgado pela campanha da Igreja, que exorta os fiéis a centrarem a temática da quadra na fé católica. Nesta casa certamente não há Pai Natal a distribuir presentes, mas adivinha-se as figuras de José e Maria, com o burrinho e a vaquinha em redor da mangedoura.

Foto nº 6: a varanda-fumeiro

Quer-me parecer que na consoada deste lar dificilmente encontraremos o bacalhau com couves, o polvo ou o perú. Mas está tudo a postos para a ceia de Natal. Pão, vinho, e eis uma família feliz!