quarta-feira, 3 de agosto de 2011

INEM, PSP e o 112

Hoje, em sede de comissão parlamentar, veio a público uma discussão assaz pertinente: qual o tempo que verdadeiramente um utente espera para ser atendido no 112?

O INEM, pela voz do seu presidente, Miguel Oliveira, havia anunciado que o tempo médio em 62% das chamadas é de 5 segundos. Perante isto, o que fez o grupo parlamentar social-democrata? Telefonou para o 112 e contou... 14 segundos. Nas palavras da deputada do PSD Joana Barata Lopes, "nove segundos podem fazer a diferença na vida ou na morte de um cidadão que contacte o INEM”.


Ora, à falta de um assunto mais fracturante na sociedade portuguesa, aqui está o tema possível. Mas, primeiro, vejamos:

O INEM fala em tempos médios em 62%. E o resto, não conta? É que, se por exemplo, em 27% a espera for de 18s, e nos restantes 11% for de 23s, a média dará (deixa cá ver...) 10 segundos e quarenta e nove décimos! Estão a ver a coisa?

Depois vem a atitude dos deputados: ao fazerem uma chamada forjada, estão a falsear o tempo de espera, pois introduzem mais um utente na linha, o que interfere com os cálculos. E além disso, podem incorrer num crime, como observou de imediato uma deputada socialista, o que criou um momento de tensão na sala.

Aliás, estou a imaginar um deputado (disfarçando a voz), dizendo:
- Haaaaa.. bom dia, olhe, tenho... um enfarte do miocárdio, venha depressa!
- Morada, por favor?
- Assemble... haaa, nada, esqueça!
E desliga. Isto não me parece bem, não é verdade?

Mas eis que a polémica continua: na verdade, o 112 não vai parar ao INEM, mas sim à PSP. Só depois da necessária triagem, a chamada é passada ao INEM, pelo que, tecnicamente, só a partir deste momento contam os tempos de espera. "É um erro clássico enraizado na cultura do povo" (sic), disse o responsável do INEM. Eu sou do povo e nunca tinha cometido esse erro. Você já?

Esta revelação bombástica trouxe outro vendaval de questões à sala, e um novo alento ao partido do Governo, que se preparava já para mudar de assunto, perante uma possível denúncia por parte da oposição. No documento, disseram, estava escrito "desde que se liga para o 112. É ou não é este o tempo considerado, porra?" (O "porra" é da minha autoria).

Nós não somos responsáveis pelo 112, é a PSP, respondeu, peremptório, Miguel Oliveira.

Para a próxima semana está já agendada outra sessão. O tema é: "Ouvir CDs dos Megadeath nas viaturas do INEM pode ou não agravar as condições de saúde dos pacientes transportados? E em versão acústica?"

Veja a notícia completa aqui.

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