À medida que me aproximava, comecei a sentir o ar pesado e percebi imediatamente que algo de muito grave se passava ali. Ao longe, um fumo espesso subia para o céu azul, recortado no horizonte. Encostei o carro na berma da estrada, saí, e continuei a pé. Instintivamente, tirei o telemóvel do bolso e preparei-me para marcar o 112.
Depois de transpor 3 carros em chamas, um deles capotado ainda com as rodas girando no ar, cheguei finalmente ao cimo da colina. O que vi gelou-me o sangue.
A porta das traseiras do supermercado estava entreaberta, e arriscando, entrei. O cheiro a queimado sufocou-me. Vários pneus ardiam na zona de lubrificantes e produtos auto. Um adolescente, empunhando um isqueiro, repetia sem parar que "se não há óleo sintético H-2, reponham o stock".
Temi o pior quando vi um pedaço de carne ensanguentada no chão, mas sosseguei ao perceber o que era: "Picanha importada do Ceará", dizia na etiqueta.
Um homem empoleirado num escadote procurava atingir a última prateleira da secção de fraldas. Olhou-me e desculpou-se, dizendo que eram as únicas para mais de 5Kg.
Dois grupos de clientes aparentemente rivais, barricados na secção de legumes, atiravam mutuamente laranjas de origem espanhola e tomates de Alcobaça, numa espécie de Aljubarrota de retalho.
Procurei as caixas registadoras com o olhar, mas não as encontrei. O mar de gente era tal que os empregados tinham retirado pela saída de emergência, levando as gavetas do dinheiro.
Olhei para a lista de compras que tinha na mão, reflecti, e disse para mim próprio: "Que se lixe, vou ao Continente!"
Muito bom!..... e dentro de pouco tempo, muitas mais pessoas vão aproveitar essas promoções por isso o cenário será muito pior.
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