Qualquer um que goste de História de Portugal, e particularmente da Idade Média, tem curiosidade em conhecer Coimbra, cidade pilar da nossa fundação. Assim, andava há muito a planear uma visita "temática". O problema é que quando falava nisto lá em casa, perguntavam-me: "Ver igrejas e túmulos? Não obrigado." Compreensivelmente.
A oportunidade surgiu agora, por ocasião de um outro compromisso. Assim, lá fui eu, depois de uma pesquisa no Turismo de Coimbra, e munido de alguns textos recolhidos na net.
Eu já sabia que o nosso património andava pelas ruas da amargura. Constatei que não é uma rua, é um beco, mesmo.
1ª paragem: Mosteiro de Santa Cruz. Monumento mais antigo que o próprio país, tem estatuto de panteão nacional, contendo os túmulos dos nossos 2 primeiros reis, Afonso Henriques e Sancho I. A igreja é lindíssima, de origem Românica com acrescentos diversos, nomeadamente Manuelino, e um órgão barroco do séc. XVIII.
A informação disponível era tão pobrezinha que me senti na obrigação de explicar a um casal de turistas que contemplavam aquela pedra de que se tratava de "... our first king, the founder of the nation." Foi assim, de impulso, e olharam para mim com um ar de quem julga que está a ser gozado.
Procurei qualquer indicação sobre visitas guiadas (que sabia que existiam), mas nada. Uma funcionária que limpava um gradeamento sugeriu-me que fosse à sacristia. Entrei por uma portinha, e aí explicaram-me que o senhor das visitas estava de férias. Mas por €2,5 podia visitar as relíquias dos 5 frades Franciscanos de Marrocos, a Sala do Capítulo e o Claustro do Silêncio. Deram-me um A4 dentro de uma bolsa transparente com uma explicação sumária, pedindo a sua devolução à saída.
Indicaram-me o caminho e lá fui, sozinho. Cruzei-me com 3 curiosos, que deviam estar mais baralhados do que eu, e ainda me aventurei por uma escada, mas dei com um gradeamento fechado, para lá do qual havia uns andaimes e ferramentas diversas.
Muito gostaria de saber o que estava a ver, mas tive azar. Terei que voltar lá para Fevereiro.
2ª paragem: Mosteiro de Santa Clara-a-Nova. (Aqui a coisa vai mudar, pensei. Com a devoção à Rainha Santa Isabel, que se encontra aqui sepultada, e sob a responsabilidade da respectiva Confraria, vou encontrar um maior cuidado). Entrei num corredor, ao fundo do qual um senhor com ar austero me olhou por cima dos óculos dizendo "É só um momento!" Ainda não tinha aberto a boca, e assim me mantive por mais uns 5 minutos.
Depois de resolvido o afazer do senhor, lá me perguntou o que pretendia. "Visitar o Convento. É possível?" "Não", respondeu. "O meu colega só está cá às quintas (amanhã), mas como eu tenho uma consulta ele vai substituir-me na caixa e também não poderá." Fixe, pensei.
Mas afinal, lá me explicou que há uma opção mais curta, com direito a ver o altar mor, com vislumbre (só ao longe, frisou) do túmulo actual da Rainha, e depois passagem à sala do Coro Baixo. Mas tinha de ser muito rápido, porque não podia deixar a entrada sem ninguém. Disse também que, uma vez aí, teria de voltar atrás fechando as portas à chave, e que eu teria de continuar sozinho, passando ao claustro, seguindo um corredor à esquerda, subindo umas escadas e dando de novo à entrada.
E assim me vi a deambular sozinho (mais uma vez) por inúmeras riquezas, sem uma explicação que bem gostaria de ter. O mais impressionante foi, perante o túmulo original da Rainha, uma obra única em madeira pintada, hoje vazio, ter pensado o que um maluco podia ter feito ali, entre tanta talha dourada e património, sem ninguém por perto.
O momento do dia foi a explicação dada pelo "confrade": "Este túmulo é o original do séc. XIV, tendo o corpo sido posteriormente transportado para outra urna, no altar mor da igreja. E mais não posso dizer, pois isso seriam €6, e o meu colega não está cá hoje". Fabuloso, não é?
P.S: nem tudo são más notícias. O Convento de Santa Clara-a-Velha, o tal que estava submerso, tem um trabalho de recuperação fantástico, e o Centro de Interpretação que lhe está anexo é um brinquinho.
P.S: nem tudo são más notícias. O Convento de Santa Clara-a-Velha, o tal que estava submerso, tem um trabalho de recuperação fantástico, e o Centro de Interpretação que lhe está anexo é um brinquinho.
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